12 outubro, 2018

Um lado

Temo que você seja um daqueles que vê ou ouve algo que oficialmente não está certo e continue calado. Temo que alguém fale mal do seu amigo e você não o defenda. Temo que você continue concordando com pontos declaradamente opostos. Temo que você, por medo, fique em cima do muro e caia dele.
Eu, verdadeiramente, temo não saber quem é a minha torcida. Temo que você concorde comigo só para não perder a "amizade". Temo não ouvir "ele não" quando eu, cegamente, seguir caminhos e pessoas ruins. Temo um lado mais que o outro.
Temo que você seja nulo e sinta, na pele, que as consequências sempre tem um lado. Temo que você seja nulo e vire escravo dele. Temo que você seja nulo, quando tiver oportunidade de escolha.  Temo que você seja nulo e ouça "você contribuiu com a vitória desse lado". Temo que você seja nulo, quando sua decisão/opinião faria a diferença. Temo que você seja nulo, enquanto me ouvir podia fazer a diferença.

19 agosto, 2014

Sobre ser feliz

Felicidade é só ser, ser feliz. Não é uma fotografia a ser apreciada. Não é uma música para dançar loucamente ou cantar alto. Não são palavras do tipo “eu te amo” escritas em CAPS LOCK enfeitadas com corações. Tudo isso é forma de expressar, ou fingir ser, nunca será propriamente felicidade. Felicidade não tem cheiro e nem cor, caso contrário, o perfume e a cor da minha felicidade estariam esgotados no mercado. 

31 agosto, 2013

Apenas um Bom Dia


                     
Um dia, em um bom ou mau dia, uma daquelas pessoas consideradas invisíveis socialmente, surpreende com um “Bom dia” com tanta espontaneidade. Ele olhou, fixou o olhar naquela pessoa a quem sempre pedia dinheiro (e que nunca lhe dava), reconheceu o seu rosto, e desejou o mais natural “Bom dia”.

Ele (eu, você e quem mais?) queria resposta, ela deu, e ele sorriu, pareciam velhos amigos. E isso se repetia, como se a resposta fosse mais importante que qualquer outra coisa. Ele não sabia, mas pra ela, aquele "Bom Dia" era sinal que não era só ela que esperava respostas.

Não queriam um tapete vermelho, um abraço apertado, um sorriso verdadeiro, apenas um bom dia.

 Tantas vezes calam, abrem e fecham portas sem ouvir a resposta pro “Bom Dia”, inevitavelmente pensam: “nunca mais darei Bom Dia”. Em um outro dia, por educação, e não por serem “idiotas”, novamente estavam lá, dizendo mais um “ Bom Dia”. 

Aos poucos se aprende: não é necessário pré-requisitos, sociais ou econômicos, para entender que “Bom Dia” é apenas um Bom Dia. 

16 julho, 2013

Solitáte

Existe uma coisa chamada "saudade", que poderia, sem nenhum problema, chamar "sentir falta de". Eu disse certo :"poderia", se não fosse a saudade um sentimento, se não fosse a saudade intraduzível, tão subjetivo!
Mãe, não tenta traduzir minha saudade e eu não tentarei explicar  seu significado.

10 junho, 2013

Vá com cuidado e não com desculpas

Tudo começou com seu pedido de desculpas. Te desculpei, mas disse que "Desculpas" não tem efeito retroativo.
 Hoje foi uma senhora, ela arrancou o couro do meu pé com um carrinho de supermercado e disse: "Desculpas, fia, desculpas!". Cheia de dor e simpática, dei um sorriso amarelo. Não disse pra ela o que disse pra você, mas pensei...
Todos os dias é um  empurra-empurra no ônibus: um soco (sem querer) no seu estômago, uma cotovelada (sem querer) na  cabeça, um tal de enfiar (sem querer) o dedo no olho, e vários pedidos (sinceros ou não) de desculpas. Assim como o erro de proibição no direito penal, acham que a culpabilidade está completamente excluída com o "desculpa".

O seu pedido de nada valeu e  eu nem me senti rancorosa, senti que eu estava amadurecendo e entendendo o significado das palavras.
Pois bem, os  inúmeros pedidos de desculpas (mais uma vez: sinceros ou não)  só servem para tirar a dor na consciência do sujeito ativo, mas o sujeito passivo continua com o bem/os bens jurídicos tutelados ofendidos . "Desculpas'' quase sempre não reparam o dano, por isso, na próxima vez pedirei pra trocarem as "desculpas" por indenização (dano moral ou patrimonial).

A verdade é que ninguém quer ser o "café-com-leite" quando  criança, mas quando crescem pedem desculpas, em qualquer oportunidade, como se tivessem dizendo: "Opa, não tá valendo, sou café-com-leite".

21 abril, 2013

Victoria, uma outra versão



Passaram 12 anos, Victoria. Escrevo só pra te mostrar que não quero nada além de você, nada além do que você pode oferecer. Eu sei, não há nada que ponha tudo em seu lugar, mas ainda assim quero te mostrar, quero muito te mostrar que nesses 12 anos o meu lugar sempre foi aí, do seu lado.
Quero que você pense bem, mesmo tão longe, em tudo que você vai fazer. Vai me deixar? Não vai olhar por mim? Se você deixar morrer, nada trás o amor de volta, e eu não vou fazer o papel de louco e tentar te impedir, por isso te peço pra ficar, aqui é teu lugar.
Na sua ausência, faz frio junto ao mar e o tempo ainda nem parou, mas é estranho o amor quando não mais está. Sente o mesmo? Também acha estranho?
Pode não parecer, mas sei do tempo e conheço seus danos, dos acertos e desenganos, e nem vim até aqui lutar por algo que não é meu, só quero dizer que eu não sei nada de você. Será que está olhando aquela lua (aquela que eu te dei)? Será que está tomando aquele “vinho dos dias tristes” e olhando da janela, esperando eu chegar? Será que posso te falar dos sonhos, do medo, do meu desejo e do meu amor? Só quero que me queira bem, meu amor!
Todos dizem que existe ódio e encanto em tudo que aconteceu, nos nossos rostos marcados. Pode ser que seja exatamente isso, mas não quero que esse encanto faça com que você se preocupe com a minha fama de ‘’perdidamente apaixonado’’, sempre te disse que os corações tristes sonham em cofres fortes lacrados. Não se preocupe, os velhos segredos estão guardados.
Não sei  realmente o que aconteceu, nos amávamos sem hora, sem endereço, você não tinha medo e o meu amor nunca teve cura, e depois fui devolvida à rua. Você não me deu um beijo, nem um simplório adeus. Sabe, crueldade assim não tem perdão.
 Repeti mil vezes “O amor chegou ao fim”, até desejei que  esquecessem de perguntar se ainda existia amor em mim. Sempre fazia questão de soltar um sorriso pra esconder a dor que sentia ao te ver feliz, com  cabelo e namorado novo ( Preferia com o cabelo preto, combinava com teus olhos. Ele quem escolheu? Péssimo gosto!).  
Quer saber? Pra mim ainda não terminou. Não terminou porque penso em você (sem saber o porquê). Sei que preciso ser forte pra suportar as sobras da vida (Sobrei! Fazer o que?) e a dor dessa infeliz e longa despedida.
Ah, tem dias como esse que parece não ter fim, parece que passa um filme de tudo. Tem dias que a tristeza vem e fica. Uma canção triste e uma taça de vinho, porque quando você não está aqui é sempre noite sem luar e sem fim. Razão? Pra que? Eu, ou melhor, a gente é coração, não vou tentar buscar em tudo uma razão.
Espero que você esteja olhando, cuidando da nossa casa e cuidando do meu jardim, até quando eu voltar (Vou voltar?). Quero que você volte a ser a Bela da tarde e não mais fonte de saudade. Vem pra mim com um passo apressado, vem pra mim!
Você sabe que me tem fácil de mais, e parece que não é capaz de cuidar do que possui, mas não pense que pode me propor pra te deixar em paz e nem me diga o que fazer. Não faça nada por mim, faça por você. Ah, se eu não te amasse tanto assim...
Agora que o dia amanheceu e você sabe que o meu amor é teu, deveria agradecer por encontrar um amor e não se esquivar.
Ainda lembro o dia em que eu te encontrei e não deu tempo de dizer que estou cansado de ouvir que só sei amar errado. Diz, o que é certo no amor? Só quero absurdos, quero amor sem fim, quero te dizer: Eu só sei amar assim!
Não, não diga que sou louco e que preciso de terapia, e outros blá blá blás que você costumava dizer, não há mais tempo pra ajuda, nem rotas, nem planos de fuga.
Eu sei muito pouco, e tudo que sei é que dentro de você existe alguém que quer nos afastar. É culpa das mentiras que eu inventei? Todas as coisas que eu te dei já não tem mais cor? Você precisa entender que todas as histórias que eu inventei foram pra te trazer pra mim.
Agora estou aqui pensando em você e querendo te ver, mesmo depois de tudo. Por você provei o sal do mar, mostrei um terno, provei um amor eterno.







Dizia o que não disse

Disse que disse, mas não disse. Disse que era assim, mas era assado e depois desdisse.
Falou que ia "comer cana", ouviu reclamação e disse: "Você entendeu errado, vou para cama". Voltou a dizer muita coisa e disse que não era aquilo que queria dizer, mas disse...
Disse que a vida era só farra e diversão e depois voltou atrás, e dessa vez não era enrolação, disse o que não disse.
Não disse que o futebol era mais importante que a manhã de sol, mas ficou subentendido e aí ela disse e redisse.

Disse: "Vamos fazer amor?"
Ela (chorando): "Você é insensível! Não vê que estou sofrendo, que horror!"
Disse: "Amor, eu disse: vamos comer amora?"

E aí não teve jeito, não teve enrolação e nem flores que o perdoasse. Ela descobriu que ele sempre dizia o que não disse.
O amor deles não tinha acabado, mas ela tinha enfim encontrado alguém que disse o que dizia, e o nosso grande protagonista ficou sem dizer o que queria.